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Publicado em 13/01/2017 ás 08h19
Os pesquisadores que investigam os casos da doença que deixa a urina preta aguardam os resultados das amostras de urina, fezes e soro dos pacientes afetados. Por enquanto, eles têm como suspeita uma intoxicação pelo consumo de peixe ou uma infecção por paraechovírus (vírus de RNA, assim como o zika).
As duas hipóteses já tiveram casos semelhantes relatados. No Brasil, em 2008, um surto com 27 pessoas afetadas pela doença de Haff foi associada ao consumo dos peixes pacu-manteiga, tambaqui e pirapitinga no Amazonas.
De acordo com a literatura médica, a doença de Haff foi identificada no verão de 1924 e é caracterizada por uma grave rigidez muscular, frequentemente acompanhada por urina escura - mesmos sintomas da doença registradas neste ano no Brasil.
Entre 1934 e 1984, casos similares da doença foram descritos na Suécia e na União Soviética. Nos EUA, os primeiros casos foram registrados em 1984.
Em 2001, mais casos foram relatados nos Estados Unidos, no estado da Carolina do Norte. Em 2010, a China também teve alguns registros. Todos causados pela ingestão de peixes de diferentes espécies.
O infectologista Antônio Bandeira, coordenador do comitê de arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) que acompanhou alguns dos casos da “doença da urina preta” em Salvador, confirmou que os casos são levados em consideração. Segundo ele, a maioria dos pacientes atuais tinha ingerido algum tipo de peixe.
“Está reportada na literatura uma síndrome semelhante a essa [da Bahia], mas que decorre de uma toxina ingerida por peixes. Isso em várias partes do mundo. Até hoje não se sabe bem como os peixes acabam contaminados por isso. Aqui no Brasil, por exemplo, teve um surto desse tipo em Manaus”, lembrou.
“Tem uma doença chamada “mialgia epidêmica”, que causa exatamente isso: dores musculares fortes e as enzimas musculares aumentam bastante”, disse Bandeira, lembrando a outra hipótese.
A “mialgia epidêmica”, ou doença de Bornholm, é causada pelo enterovírus Coxsackie B ou outros vírus. Bandeira disse que, no início do surgimento dos casos na Bahia, era a hipótese mais aceita pelos pesquisadores. “Nós começamos acreditando nessa hipótese, mas ponderamos. Um percentual expressivo dos pacientes que têm essa síndrome - cerca de 30% a 40%- tem outros quadros, como dores abdominais, às vezes diarreia”, disse.
Nos casos da Bahia, não foram registrados outros sintomas além de dor muscular extrema, urina preta e insuficiência renal.
Parceiro de Bandeira, o infectologista Gúbio Soares é pesquisador da Universidade Federal da Bahia. Ele recebeu 11 amostras de pacientes afetados e disse que encontrou vírus em algumas delas. Um laudo deverá ficar pronto até o início da próxima semana.
“Nós já chegamos a uma fase que identificamos a presença do material genético de uma família de vírus, nós achamos que é Picornavirus, mas ainda estamos na parte de sequenciamento para ver se conseguimos fechar o caso”, disse. “Nós suspeitamos que seja um vírus chamado paraechovirus”.
De acordo com Soares, esse vírus já causou um pequeno surto na Dinamarca, em 2014, na França, em 2008 e 2014, e também no Japão em 2008, 2010 e 2014. Ele disse que ainda precisa confirmar se os casos antigos apresentaram o sintoma da urina preta.
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