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Publicado em 16/01/2017 ás 09h39
Uma espécie de morcegos encontrada no Brasil, até então conhecida por consumir exclusivamente sangue de aves, está se alimentando agora de sangue humano.
A revelação está em uma pesquisa conduzida por cientistas brasileiros e publicada em dezembro na revista científica Acta Chiropterologica, a mais importante publicação do mundo voltada à pesquisa de morcegos.
O estudo analisou 70 amostras de fezes de uma colônia da espécie Diphylla ecaudata, popularmente conhecida como morcego-vampiro-de-pernas-peludas.
Os cientistas conseguiram extrair o DNA de 15 delas - e em três descobriram vestígios de sangue humano, explica Enrico Bernard, professor do Departamento de Zoologia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e responsável pela pesquisa.
O estudo foi conduzido no Parque Nacional do Catimbau, na região de caatinga de Pernambuco, a cerca de 300 km do Recife.
"Das três espécies de morcegos-vampiros que conhecemos, sabíamos que apenas uma delas se alimentava de sangue humano", conta Bernard, em entrevista à BBC Brasil.
"Mas nosso estudo mostrou agora que outra espécie, o morcego-vampiro-de-pernas-peludas, que só se alimentava do sangue de aves, também passou a consumir sangue humano", acrescenta o especialista.
Bernard explica que, diferentemente do sangue de aves, rico em gordura, o dos mamíferos é mais espesso e rico em proteína.
"Sabíamos que essa espécie (morcego-vampiro-de-pernas-peludas) tinha uma adaptação fisiológica para digerir apenas o sangue de aves. Mas isso parece estar mudando, já que ela passou a se alimentar de sangue humano", afirma.
Na avaliação de Bernard, considerando que o morcego-vampiro-de-pernas-peludas tem fisiologicamente menos tolerância ao sangue de mamíferos, os novos hábitos alimentares da espécie "reforçam um cenário de escassez de presas".
"Sendo assim, ou o comportamento alimentar desse bicho é muito mais variável do que imaginávamos até hoje, ou há uma restrição significativa de suas presas nativas", diz o especialista.
Bernard afirma que os resultados do estudo parecem validar a segunda hipótese.
"Essa porção da caatinga vem sendo bastante alterada pela presença humana. As presas nativas desse tipo de morcego - aves maiores, em sua maioria - estão desaparecendo e seu habitat sendo ocupado por seres humanos e seus animais domésticos", afirma.
"Nosso estudo mostrou, por exemplo, a presença de sangue de galinha em algumas das amostras que coletamos."
Além da defaunação (diminuição acelerada e drástica de espécies animais), a mudança dos hábitos alimentares do morcego-vampiro-de-pernas-peludas também pode evidenciar um impacto na saúde pública humana.
"Morcegos transmitem uma série de doenças. Se essa espécie está agora se alimentando de sangue humano, precisaremos lidar com um problema de saúde pública potencial", destaca.
Relatos de morcegos atacando pessoas, especialmente como resultado de transformações ecológicas provocadas pela presença humana, não são inéditos no Brasil.
Em 2005, o Maranhão registrou o maior surto de raiva humana transmitida por morcegos da história do país.
Na ocasião, mais de 20 pessoas morreram vítimas da doença, transmitida por morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue).
Causada por vírus, a raiva humana tem sintomas como febre, fotofobia e dificuldades para se alimentar.
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